As sociedades humanas actuais sofrem de uma disfunção relativamente ao tempo. Precisam de projectar-se no futuro para sobreviver e prosperar. E cada vez mais falta-lhes um projecto aliado a uma projecção. À tirania do imediatismo que serve de desculpa ao"depois de mim, o dilúvio" dos príncipes, alia-se a tirania da urgência. Já não conseguimos projectar-nos numa perspectiva de longo prazo. Deste ponto de vista, a urgência é "um modo de destruição do tempo, uma negação activa da utopia". O tempo parece abolido pelo instante que se esgota em autocombustão!
Para ultrapassar esta "miopia temporal", aquela que tanto nos impede de (pre)ver ao longe o futuro, como de assumir a tradição do passado, há uma ética a praticar, aqui e agora , para que mais tarde possa haver um aqui e agora. Se não agirmos a tempo, as gerações futuras não terão sequer tempo de agir (para usar uma expressão de Federico Mayor, ficarão prisioneiras de processos incontroláveis, como a assimetria demográfica, a degradação ambiental global, as disparidades norte-sul, o apartheid social, a vitória do comportamento mafioso, bem como da Grande Ilusão que é o triunfo da democracia burocrática.
O Futuro é-nos confiado como uma "herança de família", mas muito frágil e perecível. A responsabilidade ética deste novo paradigma, de que sem saber fazemos parte, consiste em passar esse património a um Outro que ainda nem sequer conhecemos!
Isto é o que ocorre dizer sobre a ética do futuro de Federico Mayor, um texto escrito em 1997 e absolutamente actual!
2 comentários:
A celeração do tempo está matar o indíviduo. Basta ver que já poucas pessoas conseguem estar consigo mesmas, sem o outro, mais do que duas horas. Um dia inteiro, então, está fora de questão.
Se a este processo juntarmos a falta de formação ética e a tacanhez que abunda pelas esquina do país, bem, aí a conjugação de tempo e espaço é explosiva.
Gostaria que a cidade voltasse a ser um espaço de cidadania, de encontro, o verdadeiro espaço público de debate e confronto com o outro. Mas a urbanidade requer tempo que a sociedade se nega a si mesma.
O tempo frenético mata o indivíduo,nesse sentido de se ser-consigo-mesmo, mas mata também a relação autêntica ao Outro e, por essa via, a cidadania responsável. Gosto de recordar as palavras de Hannah Arendt que diz que nenhum sistema insitucional sobrevive (a cidade incluída)"sem ser apoiado por uma Vontade de viver em conjunto...quando esse querer se perde, toda a organização política se desfaz". Palavras a recordar em momentos de crise de "pertença a uma comunidade" como é o caso da Europa,da cidade em que vivemos, da nacionalidade que transportamos...
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