sexta-feira, 30 de abril de 2010

Homens em tempos sombrios

Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.

Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
...


Bertolt Brecht, Aos que virão depois de nós

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O Inconsciente é o homem que foi habitado pelo Significante!

J. Lacan, Écrits

terça-feira, 27 de abril de 2010

José Rubem Fonseca


Assim inicia Jorge de Sena o poema "Beco sem saída, ou em resumo...", mas poderia muito bem ser um pensamento de Rubem Fonseca.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Anémona

Coimbra 2010

Felizmente há flores!

Adolescência

Revolve-se o sangue nas veias e já se soltou o veneno.
Inicia-se a Viagem num Fantástico Veleiro.
"Há um homem no Maaar!"_ gritam as vozes marítimas.
"Atira-lhe daí essa corda! "Uma tábua!"
"Uma crença! a Salvação!"
"Não o deixes afundar,
não vês que ao invés de olhos,
tem duas âncoras no olhar?!"

...é apenas um menino com o corpo por narrar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

terça-feira, 20 de abril de 2010

Oito pequenas e negras histórias

Fotos: Augusto Baptista in A Escola da Noite weblog ( montagem)

A encenação respeita o ritmo cinematográfico e o relato vibrante de Rubem Fonseca. A cadência narrativa, rendida à concisão e brutalidade vocabular, tudo faz para que os finais continuem a revelar a surpreendente emoção reles que habita as criaturas sublimes e irracionais que são os humanos (*).
Extraídos de Ela e outras mulheres, Pequenas criaturas e Secreções, Excreções e Desatinos, oito textos crueis revelam violência, vingança, um ego despudorado, um ostensivo imaginário masculino, alguns clichés e, também, pequeníssimas notas de lirismo que emergem sob a forma de culpa triste...
A redenção, em jeito de final salvífico-carnal, está na escolha do texto que encerra o espectáculo. Afinal, a esperança não pode desaparecer do palco...
Ah... isto a propósito de 1.José, a primeira das sessões da Trilogia de José Rubem Fonseca, levada à cena pela Escola da Noite e Companhia de Teatro de Braga, em Coimbra, na semana passada.

(*) Outras formulações possíveis: a emoção irracional que habita as criaturas reles que são os humanos; a emoção irracional e reles que habita as criaturas sublimes que são os humanos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O mal que habita a normalidade

Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, você está com um ar cansado. Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho. Você não vai largar essa mala?, perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.
Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as letras e números, eu esperava apenas. Você não pára de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa, entrou a minha mulher na sala com o copo na mão, já posso mandar servir o jantar?
A copeira servia à francesa, meus filhos tinham crescido, eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha mulher nada pediu, nós tínhamos conta bancária conjunta.Vamos dar uma volta de carro?, convidei. Eu sabia que ela não ia, era hora da novela. Não sei que graça você acha em passear de carro todas as noites, também aquele carro custou uma fortuna, tem que ser usado, eu é que cada vez me apego menos aos bens materiais, minha mulher respondeu.
Os carros dos meninos bloqueavam a porta da garagem, impedindo que eu tirasse o meu. Tirei os carros dos dois, botei na rua, tirei o meu, botei na rua, coloquei os dois carros novamente na garagem, fechei a porta, essas manobras todas me deixaram levemente irritado, mas ao ver os pára-choques salientes do meu carro, o reforço especial duplo de aço cromado, senti o coração bater apressado de euforia. Enfiei a chave na ignição, era um motor poderoso que gerava a sua força em silêncio, escondido no capô aerodinâmico. Saí, como sempre sem saber para onde ir, tinha que ser uma rua deserta, nesta cidade que tem mais gente do que moscas. Na avenida Brasil, ali não podia ser, muito movimento. Cheguei numa rua mal iluminada, cheia de árvores escuras, o lugar ideal. Homem ou mulher? Realmente não fazia grande diferença, mas não aparecia ninguém em condições, comecei a ficar tenso, isso sempre acontecia, eu até gostava, o alívio era maior. Então vi a mulher, podia ser ela, ainda que mulher fosse menos emocionante, por ser mais fácil. Ela caminhava apressadamente, carregando um embrulho de papel ordinário, coisas de padaria ou de quitanda, estava de saia e blusa, andava depressa, havia árvores na calçada, de vinte em vinte metros, um interessante problema a exigir uma grande dose de perícia. Apaguei as luzes do carro e acelerei. Ela só percebeu que eu ia para cima dela quando ouviu o som da borracha dos pneus batendo no meio-fio. Peguei a mulher acima dos joelhos, bem no meio das duas pernas, um pouco mais sobre a esquerda, um golpe perfeito, ouvi o barulho do impacto partindo os dois ossões, dei uma guinada rápida para a esquerda, passei como um foguete rente a uma das árvores e deslizei com os pneus cantando, de volta para o asfalto. Motor bom, o meu, ia de zero a cem quilômetros em nove segundos. Ainda deu para ver que o corpo todo desengonçado da mulher havia ido parar, colorido de sangue, em cima de um muro, desses baixinhos de casa de subúrbio.
Examinei o carro na garagem. Corri orgulhosamente a mão de leve pelos pára-lamas, os pára-choques sem marca. Poucas pessoas, no mundo inteiro, igualavam a minha habilidade no uso daquelas máquinas.
A família estava vendo televisão. Deu a sua voltinha, agora está mais calmo?, perguntou minha mulher, deitada no sofá, olhando fixamente o vídeo. Vou dormir, boa noite para todos, respondi, amanhã vou ter um dia terrível na companhia.

José Rubem Fonseca, Passeio Noturno

sexta-feira, 16 de abril de 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O piano foi inventado para Chopin

Até ao momento o ano Chopin não se faz notar em Portugal. Fez-se pouco. Fez-se o que foi possível, talvez. Por isso se aguarda com entusiasmo o Festival Chopin, de 16 a 19 de Junho,
uma iniciativa conjunta do S. Luís e da Orquestra Metropolitana de Lisboa e onde haverá lugar para o Chopin Romântico e para o Chopin inspirador de outras sonoridades. Mário Laginha estará presente!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Crónicas de Rubem Fonseca



No Teatro da Cerca de S. Bernardo

3 Fonseca 15, 16 e 17 de Abril
2 Rubem 22, 23 e 24 de Abril
1 José 29, 30 de Abril e 1 de Maio


"Fonseca instala o medo ou o mal no próprio interior da linguagem"

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Corunha, 2007

Esses mortos difíceis
que não acabam de morrer
dentro de nós; o sorriso
de fotografia,
a carícia suspensa, as folhas
dos estios persistindo
na poeira; difíceis;
o suor dos cavalos, o sorriso,
como já disse, nos lábios,
nas folhas dos livros;
não acabam de morrer;
tão difíceis, os amigos.

Eugénio de Andrade

Bravo, R.L.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

(...)
imagina que as pessoas são
animais marinhos que aprenderam a
demorar ao sol

depois sente também o sol, percebe como
se pode mergulhar na luz, e depois imagina
que essa luz é a mesma do passado
e traz do passado todos quantos
se guardam na memória, e depois
percebe como a memória é a
presença de todo o tempo que já
foi, percebe que lembrar é um sol
que não tem dia e nem se apaga, percebe
que lembrar é a ressurreição de cada
um, percebe que lembrar é a verdadeira
história, e depois mergulha mais
fundo na luz, talvez vejas um peixe
passar, estás a nadar,estás a nadar, és
também água, és um animal
marinho

valter hugo mãe, caxinas setenta e sete

terça-feira, 6 de abril de 2010

Uma deriva

"(A Europa) Como não tem um centro, não consegue ser um actor. É reformada da História. Está a viver de rendimentos. E estou admirado que a Europa prescinda de uma relação muito especial com a Rússia. Admitimos a perspectiva de que a Turquia entre na UE, e a mim parece-me inevitável que ela entre... Então ela entra e não entra a pátria de Tolstoi e de Dostoievski? A Rússia pertence-nos. A Alemanha podia jogar esse jogo sozinha...
Isso não convém, como já sabemos. "

Eduardo Lourenço, entrevista ao Jornal "Público" (6/04/2010)

Istanbul is trendy


domingo, 4 de abril de 2010

Um cantinho de mundo, 2010

O mundo é um jardim III


Fake polaroids!

quinta-feira, 1 de abril de 2010

O mundo é um jardim II


...e daqui a três meses será um cesto de ameixas!

O mundo é um jardim


...e daqui a seis meses será Doce de Colher!