quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A tua alma é a Casa Grande, virada a sul. A minha Consciência habita-te, de tempos a tempos, no quarto das visitas. Nessas ocasiões, encontramo-nos , na Salinha dos Quinze Anos e sentamo-nos no chão. Abrimos juntos a Caixa dos Medos, folheamos o Livro das Palavras Prodigiosas e olhamos o Caleidoscópio dos Deslumbramentos. Quando finalmente adormeces, velo-te o sono até que passe a Hora Terrível. A hora em que a Noite se suspende de Vida, sem vultos, nem sussurros. A hora que só os lúcidos insones sabem existir.
Ao chegar oficialmente a madrugada, visto e abotoo meticulosamente o Casaco Que Mimetiza Multidões, saio para a cidade, e são os uns e os outros de cada dia, o transito e o aroma do café da Esquina de Sempre.
Deixo a porta no trinco.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,

Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!

Natália Correia, Inéditos