quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sobreviver

Conimbriga, 2010

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Em defesa da cidade

É possível ver na cidade, com o mesmo olhar de Bataille, uma alegoria fúnebre: prédios, edifícios vários, monumentos, todos terrivelmente vazios, à espera de serem habitados…Mas é também possível admitir que muitos de nós se revêem e se encontram nas labirínticas e imensuráveis babilónias, onde o espaço, sempre provisório e reconstruído, é cada vez mais identificado pelo comportamento dos utilizadores e, cada vez menos, por uma qualquer descodificação de planos.
A cidade que eu habito não é dos políticos e dos urbanistas que tomam decisões sobre ela… é minha. É de todos os que a usam e, de uma forma muito particular, dos boémios, dos dandies, dos sem-abrigo, dos que se demoram a regressar a casa, de todos aqueles que lhe reconhecem os recantos sob várias luzes, lhe descobrem as fissuras, os contrastes, as descontinuidades, a segmentação. Lhe desvendam a polissemia dos sentidos e a polifonia das linguagens.
Walter Benjamin acreditava que o progresso faria desaparecer aquele que mais ludicamente usa a cidade: o flâneur. Como Hessel, eu não creio que tal seja possível! Há-os em todas as cidades, basta reconhecer-lhes o olhar e o andar: o flâneur é um fotógrafo, mesmo sem câmara, é aquele, que entre nós, regista imagens, ideias, sentimentos, atitudes, é aquele para quem a rua é um lar, um refúgio, onde nada de mal pode acontecer, é aquele para quem as fachadas das casas são olhos solitários que observam os passantes, olhos onde todo um mundo se aconchega. Flâneurs são os nativos de uma cidade que um dia decidem olhar para ela como se fossem estrangeiros, exploradores, viajantes… que, misturando-se com a multidão anónima , escrevem percursos porque… só na cidade “ os corpos passeiam como movimentos de escrita”!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Doris Lessing faz 91 anos!

"Vocês estão num processo de endoutrinação. Nós ainda não conseguimos desenvolver um sistema de educação que não seja um sistema de endoutrinação. Pedimos desculpa, mas é o melhor que podemos fazer.

Aqui, o que vos estão a ensinar é uma amálgama dos preconceitos da época e de escolhas da nossa cultura actual. A mais pequena olhadelha à história mostra como são impermanentes. Vocês estão a ser ensinados por pessoas que se acomodaram a um regime de pensamentos estabelecido pelos seus predecessores. É um sistema auto-perpetuante.

Os mais fortes e individualistas entre vós são incentivados a encontrar maneiras de se educarem a si próprios - de educarem o vosso próprio julgamento. Aqueles que aqui ficarem devem lembrar-se constantemente de que estão a ser moldados e padronizados para satisfazerem as necessidades específicas e asfixiantes desta sociedade."


Doris Lessing

Com o meu pedido de desculpas pela violência que pode ser educar e aprender, com uma enorme tristeza pela gratuitidade dessa violência, com uma imensa revolta por ser instrumento de perpetuação de uma sociedade agonizante.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

As casas, as rosas, os navios e a deriva

Falemos de casas, do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo.
...

Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
e morrer com um pouco, um pouco
de beleza.


Herberto Helder, Ou o Poema contínuo

O que se ouve por aí...

Todos os poemas de amor têm um pretexto, mas são poucos os que possuem um destinatário.

Inside your hours...

...
What happened that night, inside your hours,
Is as unknown as if it never happened.
What accumulation of your whole life,
Like effort unconscious, like birth
Pushing through the membrane of each slow second
Into the next, happened
Only as if it could not happen,
As if it was not happening. How often
Did the phone ring there in my empty room,
You hearing the ring in your receiver—-
At both ends the fading memory
Of a telephone ringing, in a brain
As if already dead. I count
How often you walked to the phone-booth
At the bottom of St George’s terrace.

...
At what position of the hands on my watch-face
Did your last attempt,
Already deeply past
My being able to hear it, shake the pillow
Of that empty bed? A last time
Lightly touch at my books, and my papers?
By the time I got there my phone was asleep.
The pillow innocent. My room slept,
Already filled with the snowlit morning light.
I lit my fire. I had got out my papers.
And I had started to write when the telephone
Jerked awake, in a jabbering alarm,
Remembering everything. It recovered in my hand.
Then a voice like a selected weapon
Or a measured injection,
Coolly delivered its four words
Deep into my ear: ‘Your wife is dead.’

Ted Hughes, Last Letter

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Teatro anatómico

Ted Hughes não se encontra entre os favoritos.
Ted Hughes não me diz nada.
Ted Hughes foi apenas um poeta casado com Sylvia Plath.
Ted Hughes foi projectado na História pelos suicidários que gravitaram à sua volta.
...
No entanto, desde ontem, só penso num poema seu, recentemente encontrado, versando sobre a última noite na vida de Sylvia Plath. Anseio pela sua leitura integral. Quero ver de que matéria é feita a alma de um poeta "in"-diferente.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Desassossegadamente

"Não há sossego - e, ai de mim!, nem sequer há desejo de o ter."

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

sexta-feira, 1 de outubro de 2010