sexta-feira, 30 de julho de 2010

quinta-feira, 29 de julho de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Segue-me à Capela - Oração das Almas

Seguindo as "Segue-me à capela"

Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra 2010

Ler Kafka à beira-mar e depois... no seu lugar natural

"Estar sentado num vagão de trem, esquecer disso e viver como se estivesse em casa. Mas de repente lembrar de onde se está, sentir a força do trem que nos transporta, transformar-se em viajante, tirar da mala um boné, tratar o companheiro de viagem com mais liberdade, deixar-se levar até a nossa meta sem esforço, sentir isso tudo como uma criança, tornar-se o favorito das mulheres, sentir-se incessantemente atraído pela janela, colocar ao menos uma das mãos no peitoril. A mesma situação, mais precisamente delineada: esquecer que se esqueceu, transformar-se num instante em uma criança que viaja sozinha num trem expresso, e em redor de quem o vagão, fremente de impaciência, se materializa em pormenores fascinantes, como se surgisse das mãos de um mágico."

Kafka, Diários de Viagem

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Fuga e um cigarro

Todos os erros humanos resultam da impaciência, uma ruptura precoce do metódico, um aparente bloqueio das coisas aparentes.

Franz Kafka

segunda-feira, 19 de julho de 2010

LEO FERRE' Avec le temps

Léo Ferré musicou poemas de Baudelaire, Verlaine, Rimbaud. Ele próprio, compositor e poeta, escreveu a Canção "Avec le Temps". Eram assim os anarchistes e os soixante-huitards... Nostálgico mas belíssimo para um bom início de semana.

A imperfeição refina o detalhe

No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...


Mas graças a Deus que há imperfeição no mundo

porque a imperfeição é uma cousa
(...)
Se não houvesse imperfeição, havia uma cousa a menos,
E deve haver muita cousa
Para termos muito que ver e ouvir...



Alberto Caeiro

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Somos doentes do tempo

As sociedades humanas actuais sofrem de uma disfunção relativamente ao tempo. Precisam de projectar-se no futuro para sobreviver e prosperar. E cada vez mais falta-lhes um projecto aliado a uma projecção. À tirania do imediatismo que serve de desculpa ao"depois de mim, o dilúvio" dos príncipes, alia-se a tirania da urgência. Já não conseguimos projectar-nos numa perspectiva de longo prazo. Deste ponto de vista, a urgência é "um modo de destruição do tempo, uma negação activa da utopia". O tempo parece abolido pelo instante que se esgota em autocombustão!
Para ultrapassar esta "miopia temporal", aquela que tanto nos impede de (pre)ver ao longe o futuro, como de assumir a tradição do passado, há uma ética a praticar, aqui e agora , para que mais tarde possa haver um aqui e agora. Se não agirmos a tempo, as gerações futuras não terão sequer tempo de agir (para usar uma expressão de Federico Mayor, ficarão prisioneiras de processos incontroláveis, como a assimetria demográfica, a degradação ambiental global, as disparidades norte-sul, o apartheid social, a vitória do comportamento mafioso, bem como da Grande Ilusão que é o triunfo da democracia burocrática.
O Futuro é-nos confiado como uma "herança de família", mas muito frágil e perecível. A responsabilidade ética deste novo paradigma, de que sem saber fazemos parte, consiste em passar esse património a um Outro que ainda nem sequer conhecemos!

Isto é o que ocorre dizer sobre a ética do futuro de Federico Mayor, um texto escrito em 1997 e absolutamente actual!

terça-feira, 13 de julho de 2010

As casas*

Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas

Ruy Belo


* Serve o presente post para corrigir um erro de autoria

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O que se ouve por aí...

Anónimo, numa esplanada:

"Eu não minto! ...apenas ajudo a realidade a configurar-se aos meus interesses."

Os trabalhos e os dias

Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
...


António Ramos Rosa,Um ofício que fosse de intensidade e calma

terça-feira, 6 de julho de 2010

Árvores do Alentejo

Serpa 2009

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!
...
Florbela Espanca

Wishful thinking

Coimbra 2010