"Estar sentado num vagão de trem, esquecer disso e viver como se estivesse em casa. Mas de repente lembrar de onde se está, sentir a força do trem que nos transporta, transformar-se em viajante, tirar da mala um boné, tratar o companheiro de viagem com mais liberdade, deixar-se levar até a nossa meta sem esforço, sentir isso tudo como uma criança, tornar-se o favorito das mulheres, sentir-se incessantemente atraído pela janela, colocar ao menos uma das mãos no peitoril. A mesma situação, mais precisamente delineada: esquecer que se esqueceu, transformar-se num instante em uma criança que viaja sozinha num trem expresso, e em redor de quem o vagão, fremente de impaciência, se materializa em pormenores fascinantes, como se surgisse das mãos de um mágico."
Kafka, Diários de Viagem
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