quinta-feira, 29 de setembro de 2011

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Hoje

Mas que sei eu...

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?


Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu sei que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha


Ruy Belo, Todos os Poemas

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

TABACARIA

Foto: Centro Cultural D. Dinis

...
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
...


Sete mulheres recriam "Tabacaria" de Álvaro de Campos, no Centro Cultural D. Dinis.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Se...

Quinta da Regaleira, 2011

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.
(...)

Herberto Helder, Se houvesse degraus na terra

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Via dolorosa (personalis)

Antes ser absolutamente ininteligível, perante uma ininteligência senhora de si que ser devorada, pelas partes que os outros escolheram, em puro abuso, para satisfação da sua ininteligibilidade, a deles, estrangeiros.

Herberto Helder, Photomaton & Vox

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Casa Azul

Cacela Velha, 2011
...
na precisão das luzes, no lugar móvel da ordem,
no gelo e no lume que entre as coisas navegam,
na palavra deflagrada, na paz das páginas.
Para onde vai o que não se move, o que é

dogma de cal, madeira, pedra ou ferro?
...

Orlando Neves, Decomposição - a Casa

terça-feira, 6 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Acordar assim...

bom dia.
bom dia mas poder trabalhar a ideia de um não poder estar
de memória num lugar escuso, apartados do uso de uma
diferença de dedos mentais, sentidos quebrados nos actos
das estrelas, desastre sobre uma mudança impessoal.
e digo bom dia. um bom dia sobre a linha feita da minha lógica,
o infinito material do mundo seguro e compreensível.
bom dia porque não tenho comparações e quem não as tem
não tem justificação para a liberdade de não ser livre.
e por isso bom dia. aos pássaros. à humanidade metafísica da
noite que sai de olhos cegos...


Sylvia Beirute

quinta-feira, 1 de setembro de 2011