terça-feira, 30 de novembro de 2010

Da irresistibilidade do poema

A voz de uma só árvore desconhecida
de um só murmúrio no livro de todos os livros de ninguém
a voz extrema do princípio inacabado
a voz do acaso revelador e do desejo errante e sepultado
a voz que quer fugir de si e da pele viva do mundo
e da noite e da morte e do naufrágio da terra e da obstinação do mar
e de todos os homens num só homem solitário
a voz anónima de sempre e de nunca num só ponto
num grito inaudível num grito puro
com todo o sentido do silêncio e não sentido
a voz da cinza permanente a voz viva do fogo
a voz que quer fugir de todas as definições e conclusões
de todas as máscaras de todas as carapaças e pedregulhos
de todos os nomes
do meu e do teu
a voz nua sem corpo na voz nua do corpo
a voz submersa traída assassinada em todas as referências
a voz da apropriação e da propriedade de todas as coisas
a voz do silêncio e da cinza de todas as pretensões
a voz estranha e obstinante
a voz do género e do único adicionado
a voz inexprimível a voz do deserto
a voz da figura construída e desconstruída
a voz do meu corpo e do teu
a voz que quer viver
a voz impaciente que quer esquecer-se de que espera
e de que não pode esperar
a voz da criança que ascende para o sol num arco
a voz do fogo que quer perder-se no sono de uma chama
fugir sempre fugir partir sempre partir
extrair-me de ser e de querer ser
não ser ninguém nem de ninguém
lá onde me perco e me encontro entre o sol e o mar
lá no centro perdido lá na respiração da água do ar
na surpresa de ser nascente do poema
no encanto do encontro
lá num só ponto num só espaço.


António Ramos Rosa, Voz Anónima

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Findings...

Coimbra, 2010

Sort of a break!

Macrosabores

Coimbra, 2010

Quem disse que uma sopa de lentilhas não pode saber a mar?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Mensagem

Bussaco, 2010

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.


Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

Fernando Pessoa, Nevoeiro

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Noite de Amores Efémeros

Há um telefone que não toca, um comboio que não passa, um táxi que não aparece! Desvinculados do mundo, desenganados, solitários, seis personagens vivem três encontros efémeros como se fossem "eternos"!

Estreou "Noite de Amores Efémeros", textos de Paloma Pedrero, encenados por Sofia Lobo, no passado dia 13, no TCSB /Escola da Noite, em Coimbra, e poderá ser visto no dia 18 de Novembro e de 1 a 19 de Dezembro.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Dead Combo

Dead Combo com belíssimos arranjos, ontem, na OMT , em Coimbra!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Se tens um jardim e uma biblioteca, então tens tudo o que precisas.

Cicero, Epistulae ad familiares

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Insónia

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.

Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
....

Álvaro de Campos

domingo, 7 de novembro de 2010

O que se ouve por aí...

kafka não foi um escritor. Kafka foi um personagem inspirador de alguns dos mais belos textos em prosa. Kafka não teve direito a uma vida, porque se subjugou ao seu próprio alter ego.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Numa aresta da cidade, eu vi a tua face Severa, sem os panos de um sorriso: bela de tão Nua.
O silêncio, essa Lâmina impossível, mostra-me a tua face serena, sem o disfarce de um Grito: pura de tão Bela.
Mas ao passar rente a ti, muito para além de Beleza, muito para aquém da Verdade, há dois fogos que se ateiam em duas fendas medonhas: queimam-me teus olhos tão Aflitos!