terça-feira, 16 de março de 2010

Dormes e respiras junto ao Sonho, imóvel com os teus olhos pequeninos, rasgados bem fechados. Estás volvido, de margem a margem, nessa cama, no Avesso do real, de face suspensa nas imagens interiores que únicas e insondáveis, selarás para sempre na Consciência. Estás deitado, só os braços se abandonaram ao desânimo dos tempos futuros e anunciam já a opacidade que um dia toma conta dos Grandes sonhadores.
Olho-te de novo, agora do ângulo das Coisas Sensíveis: lastro, chão, lago quieto, verde-musgo profundo...
Que se suspendam todos os Relógios, que sangrem se for preciso, que se apague o Cintilar dos metais, que se calem os Cristais e todos os surdos murmúrios que emanam dos objectos Reais.
Que dure a Noite. Que nenhuma luz se projecte na linha indistinta do teu corpo porque só quando clarear o dia, presença entre presenças, serás então uma ave, um peixe, um menino, ou qualquer outra coisa, livre e humanamente invulgar.

Dorme. O desejo não é bastante para te acordar.

2 comentários:

Raul Moura Mendes disse...

Desculpa, mas não resisto em dizê-lo... e bem alto:

QUE BEM SE ESCREVE EM COIMBRA!!!

Outras Palavras disse...

Muito obrigada pelas tuas palavras generosas de que não sou efectivamente merecedora.
Tu sim, és o destinatário de facto e por direito da afirmação:que bem se escreve em Coimbra!