terça-feira, 8 de junho de 2010

Do instante

Eu sei que um sorriso é uma centelha Poderosa tão capaz de incendiar um silêncio como de incinerar todas as palavras.
Eu sei que o teu sorriso viaja pelo mundo, sobrevoa os frutos da Terra, mas habita frequente e teimosamente a breve nação de uma Suavíssima lembrança.
Eu sei que seria preciso regressar a essa Pátria para ouvir O quase-riso com que te vestes de ti mesmo. Mas que o exílio é o preço a pagar pela pregnância do futuro.
Eu sei que não se fixa um sorriso numa fotografia, porque ela não mostra como, então, deixas tombar os ombros, como inclinas a cabeça para trás e como com esse gesto todo o mundo se inclina um pouco para trás, também. Como todos os móveis e objectos sólidos da sala se começam a movimentar e como se levanta uma brisa que vira de súbito a página do livro que se encontra sobre a mesa.
Eu sei que durante cinco segundos, no fim dos braços, duas mãos Sem medo ficam suspensas no vazio. E são as minhas.
Eu sei que, emigrante de mim-mesma, balbucio uma banalidade fugaz e semicerro os olhos para não percebas que eles se estão a transformar em dois Espelhos perigosos.