terça-feira, 4 de maio de 2010

Do rigor

Despediu-se com uma lágrima terrivelmente salgada. Quase seca! Em qualquer adeus uma mulher é obrigada a derramar, pelo menos, uma lágrima com doçura e exactidão. Doçura na forma, rigor na intenção.
Tangeu um Silêncio e esperou pacientemente que os demónios que lhe segredam sentenças na cabeça se calassem. E quando, por fim, o desejo de dizer e de fazer coisas doces se apaziguou, dobrou algumas peças de roupa, eram sobretudo casacos, e iniciou um estranho comércio com o sentido e as palavras, determinada a reinventar uma esplêndida Gramática vital.
Encetou uma Nova viagem, partindo com a certeza de que longe, mesmo no centro do mundo, alguém vive um Maio quente e húmido. Que as águas se lançam nas praias e nas baías sem convicção. Que as bananas estão quase rosa. Que as jacas explodem na vegetação ferida de tanto verde. Que nas noites narcóticas, os corpos continuam a morrer suavemente dentro de outros corpos, enquanto que as osgas sobem pelas vidraças, ostentando as entranhas no interior das barrigas moles e transparentes. Que as luzes das destilarias continuam a bruxulear ao longe e que da terra emana o cheiro do caramelo.
A Desordem, essa, habita um lugar fundo e secreto, o Olvido.
Sem surpresas, o dia amanhecerá ligeiro!

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